domingo, 14 de junho de 2009

O REGRESSO

Terminada a missão creio com o dever cumprido, estivémos três dias em Luanda à espera de embarque.
Aqui o mesmo grupo ficou hospedado numa pensão, depois embarcámos a 24 de Abril no paquete Quanza, destino à Metrópole, chegando a 9 de Maio de 1968.
Nessa manhã fresca e húmida, acontece que à chegada a Lisboa trazíamos na Enfermaria do barco alguns militares, poucos, portadores de hepatites, bastante acentuada penso de 2º ou 3º grau.
Recordo-me que um destes, na época tinha uma infecção numa nádega devido às más condições de esterilização de agulhas. Estes soldados desembarcaram, e eram logo encaminhados para o hospital militar.

2 comentários:

Américo Angelo disse...

Olá, Joaquim, é com muita satisfação que vejo escritas algumas das tuas memórias de uma época que tanto marcou as nossas vidas. Lembro-me dos teus problemas de saúde assim que regressaste de Angola. Ensinaste-me a dar injecções em ti próprio para não te deslocares diariamente ao Hospital do Fundão. Sendo nós quatro irmãos (duas raparigas e dois rapazes) e nós os mais novos, tivémos ambos a sina de alimentar a guerra do Ultramar. Nunca esqueci o dia do meu embarque para a Guiné. Nunca quis revelar à família esse dia, pois não queria ninguém a sofrer numa despedida dessas. Mas tu soubeste e lá estavas em Alcântara juntamente com a nossa irmã Lurdes. Quando me abraçaste, na despedida, estavas a chorar. Era de ti que eu esperava uma força, mas não disseste palavra. Eu, que era alferes dos rangers, com uma preparação física e psíquica, acima do normal, fiquei muito perturbado. As tuas lágrimas revelaram-me, antecipadamente, aquilo por que iria passar. Sabes do que falas, escrevendo. E ao falares e escreveres dás voz a muitos milhares que já a não têm e a muitos milhares que por ti falam. Por que chora um homem?

Joaquim Angelo disse...

Irmão Américo Ângelo,sabendo eu bem pelo que tinha passado durante 27 meses metido no mato
e no centro de uma guerra e com a responsabilidade de cuidar de uma companhia de jovens
soldados na aérea de saúde e com poucos conhecimentos de vida.No dia do teu embarque para a Guiné não
tive a coragem de ti dirigir palavra porque tinha a certeza que não ias ter a vida fácil
e com a responsabilidade que tinhas em cima dos ombros como Alferes Ranger terias muitos
momentos de decidir determinadas situações para as quais nem tempo havia para pensar.E como
resposta chorei...Foi a maneira que o meu pensamento ditou !... Chorei porque foi difícil...
Fizemos o melhor que sabíamos na inocência da nossa juventude...Finalmente terminou o Vietname
Português graças a um grupo de oficiais cansados das injustiças.Calculas o sofrimentos que os
Pais tiveram, mal regressou um filho da guerra , e logo de seguida embarca o filho mais novo.