segunda-feira, 29 de junho de 2009

A GRANADA

O trilho armadilhado.. esperteza de militar:
Estávamos na época das queimadas e como anteriormente disse, fizemos permanência em cima de um morro três meses seguidos.
Fazíamos patrulhamentos na redondeza e vestígios do inimigo, pouco.
Ora o oficial de comando Alferes se bem pensou melhor o fez...
Uma granada dentro de uma lata das que nos serviam o pequeno almoço tipo embalagem coca-cola, tirada a cavilha, granada dentro presa por um fio atravessando o trilho, granada de um lado fio preso no lado contrário do trilho, fio camuflado a uma altura relativamente baixa. Durante a noite estávamos no acampamento quando se ouviu o rebentamento. Visitámos depois o local já de dia, demos com vestígios de sangue, e os indivíduos continuaram caminhada fora do trilho, notou-se porque se viram as pegadas na cinza.
Ao passar a perna o fio é puxado, a granada sai fora da lata e assim se provoca o rebentamento.

domingo, 28 de junho de 2009

O HINO DA ÉPOCA

Apelo a todos os ex-combatentes do Batalhão 1875, caso tenham a oportunidade de ler esta história e queiram participar com fotos da época de 1966 a 1968. Basta que me enviem as fotos para angelo.joaquim@sapo.pt e assim que possível, serão publicadas.Pretende-se tornar esta história mais rica, com as experiências dos que passaram pelas longínquas paragens de Angola.

É uma historia que tem a ver com todos os ex-combatentes que prestaram serviço militar em África.Um hino especial dedicado a todas as mães, que passaram por este sofrimento com ausência dos seus filhos, outras que os perderam para sempre numa guerra injusta.

O FORMIGUEIRO

Pois pela única vez que vim a este lugar, subi a uma laranjeira carregada de laranjas afim de apanhar o respectivo fruto, coisa rara na guerra.
Mas o inesperado acontece, o inimigo estava lá! Um ninho de formigas em cima da laranjeira.
Assim que lhes toquei, tentaram imediatamente comer-me vivo, desci e no chão tive que me despir, sacudir o camuflado, afim de me ver livre deste malditos bichinhos.
E foi deste laranjal que trouxemos um Unimogue carregado de laranjas para o acampamento.

FORMIGA É FORMIGA.

O LARANJAL - retomar das memórias...

Numa saída de Unimogue - carro do exército com seguramente 12 militares incluindo o condutor
por cada viatura mas nunca o número certo - fomos numa ocasião a uma mata de zona plana com um laranjal nas margens de um rio. E muito próximo com alguns morros extraordinários, coisa como nunca tinha visto, morros estreitos e altos com que se fossem coisas da arquitectura moderna, a companhia que substituímos que foi para o (TOTO), teve as duas baixas em combate.
Foram surpreendidos pelo inimigo e o inesperado aconteceu... dois mortos em combate.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

terça-feira, 23 de junho de 2009

Esclarecimento

Belo dia, na Empresa onde trabalhei até ao limite da reforma, Empresa essa conceituada
no mercado, geralmente era-nos pedido a caderneta militar, afim de nos ser contado o serviço militar para efeitos de reforma, e por qualquer motivo a chefia Senhora perguntou-me o significado destas iniciais (ZIN)...Respondi...Zona Intervenção Norte de Angola. Caso consultem o meu blogue, o esclarecimento uma vez mais aqui fica, para as pessoas que felizmente nunca tiveram familiares ligados, a alimentar esta ignorante Guerra.

Perante esta resposta a Sra ficou a olhar para mim...
Ainda hoje não percebi o porquê.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

REGIMENTO INFANTARIA 2




Saída de Lisboa no comboio, destino Abrantes R,I .2, e aqui depois do espólio feito ordens para desmobilizar, porque as saudades apertam, e para trás ficou a pistola Valter e a costureirinha "G 3" arma ligeira que durante todo esse tempo nos acompanhou, depois do espólio feito,entrega do pijama camuflado que utilizámos durante longos meses, ordem para destroçar.
Despedida uns dos outros, e cada um segue destino para junto dos familiares porque
as saudades eram muitas.

Porta de armas fora como um bando de pardais, em "LIBERDADE".

quinta-feira, 18 de junho de 2009

CHEGADA A LISBOA



Chegado ao cais de Lisboa a 9 de Maio, à minha espera estavam os meus Pais, uma irmã, uma prima, e uma filha desta - uma jovem bonita na altura com 20 anos que se correspondeu comigo todo o tempo de guerra.
Abracei os meus pais cheio de saudades, mas no momento alguém da multidão me perguntou por fulano tal...
É que a ansiedade de rever os entes queridos era tanta - da parte de quem aguardava a chegada dos militares - que sempre que apanhavam um recém chegado, abordavam-no logo para saber se os entes queridos vinham no mesmo barco.
Ora no meio de tanta gente, dos quais muitos não conhecia, além dos militares da minha companhia, respondi que sim estavam a chegar..., mas sabia que muitos deles viriam dentro de uma caixa de madeira, porque o nosso barco também os trouxe.
Felizmente a minha história termina com um regresso feliz, embora com muito sofrimento. Mas é a realidade, sem qualquer ficção-científica.


Consultar aqui os Mortos do ULTRAMAR, pertencentes ao Concelho do Fundão


domingo, 14 de junho de 2009

O PRINCÍPIO DO FIM

Era eu jovem com os meus 17 anos quando assisti às eleições do senhor General Humberto Delgado, recordo-me que na sua visita ao Fundão. A visita deste Senhor foi um mar de gente vindo das aldeias do conselho para o felicitar.
Como tal, o meu serviço com militar obrigatório durante 36 meses foi para mim uma excelente escola de democracia, essencialmente em Angola, como já descrevi anteriormente.
As guerras nas colónias foram o princípio do fim, para que o País ressuscitasse para a paz. Não não se ganhou a guerra no campo de batalha, mas ganhou-se na retaguarda...
Como jovem que era na altura nunca imaginei participar numa guerra que durou desde 1961 até 1974, e que tão desastrosa foi para toda a juventude da época.
Tudo isto devido a umas centenas de incapacitados que não tiveram uma visão aberta, e hoje os jovens assistem à guerra dos desempregados e a geração dos 500 euros de ordenado e mesmo esses não é para todos...
Mas que País é este?...
Andamos a caminho das urnas para elegermos imigrantes ricos?...
Continuamos insatisfeitos e preocupados com tal situação!...

O REGRESSO

Terminada a missão creio com o dever cumprido, estivémos três dias em Luanda à espera de embarque.
Aqui o mesmo grupo ficou hospedado numa pensão, depois embarcámos a 24 de Abril no paquete Quanza, destino à Metrópole, chegando a 9 de Maio de 1968.
Nessa manhã fresca e húmida, acontece que à chegada a Lisboa trazíamos na Enfermaria do barco alguns militares, poucos, portadores de hepatites, bastante acentuada penso de 2º ou 3º grau.
Recordo-me que um destes, na época tinha uma infecção numa nádega devido às más condições de esterilização de agulhas. Estes soldados desembarcaram, e eram logo encaminhados para o hospital militar.

sábado, 13 de junho de 2009

A PARTILHA

O Capitão Almeida já nessa guerra nos dava lição de partilha, também os oficiais e sargentos.
Em campanha, e sempre sob o seu comando já existia um desabafo e protesto de descontentamento, situação que vivíamos nos momentos difíceis e enquanto houvesse água no seu cantil, ninguém passava sede. Era um homem com uma humanidade extrema, e preferia chamar alguém à atenção do que aplicar castigo pela disciplina militar...
Quem não gostava dele?...
E dos seus oficiais?... E dos furriéis Milicianos?...
Podia nomear aqui o nome de todos eles...
O chefe dava um exemplo extraordinário perante os seus subordinados.
Por isso como mérito militar regressou com todos os seus homens e os trouxe de regresso para as suas famílias...
O meu mais profundo agradecimento a todos aqueles que partilharam momentos tão difíceis e todos os que partilharam desta experiência sabem, tão bem como eu que foi assim...
O Capitão Almeida foi sempre um chefe excelente e compartilhou com todos nós, que o acompanhámos de perto, o bom exemplo de amizade e camaradagem...
Não facilitava em serviço...
Deus o tenha na sua santa paz...

sexta-feira, 12 de junho de 2009

A MEMÒRIA

Caso tivesse documentos poderia ser uma estória mais esclarecedora a nível de operações de todo o Batalhão, depois de 45 anos de todos estes acontecimentos que por ventura nunca nos saíram da memória.
Muito pouco se têm falado das guerras coloniais, GUINÉ,ANGOLA , MOÇAMBIQUE, mas muito mais se tem esquecido aquilo que ao povo jovem não interessa que saibam, responsabilidade de quem?
Rara a família que não esteve ligada a este episódio triste, Pais, Mães, Irmãs, Namoradas e Esposas.
Escrevo estes episódios para que os meus Netos possam ter conhecimento destes acontecimentos relativamente recentes.
É pena que nas Escolas não haja mais informação e se fale desta História ultramarina e das guerras que causaram milhares de mortos e deixaram outros tantos com mazelas para toda a vida, que perduram até ao fim dos seus dias.
Muitos morreram no silêncio com perturbações profundas sem nunca terem a coragem de fazer um desabafo, outros ainda perduram com a memória avivada, e que nunca esquecerão os tristes acontecimentos... Apesar de todos terem coragem há sempre uns mais corajosos que outros..

O MILITAR COLONO

No Inga havia na nossa companhia 1494, destacado um grupo de combate de colonos negros distribuídos uma secção por cada grupo de combate nosso, tinham vindo creio que de Vila Nova de Caipemba, e um dia apresentam-se no posto de socorros com um desses militares alcoolizado dominado por quatro colegas, dizendo que queria matar todos os militares da caserna.
Embriagado, levam-no ao posto de socorros, afim de lhe medicar qualquer coisa para sossegar
o indivíduo.
Mandei-o deitar numa maca, não estou com meias medidas e injectei-lhe uma âmpola de...
O indivíduo não levantou mais problemas, levaram-no de seguida para a caserna tendo este dormido toda a noite num sono profundo, sem inquietar mais alguém que fosse.
Existia remédio para remediar todos os males.
Durante estes últimos meses o médico mais próximo estava colocado a uma distância significativa na CCS no Vale de Loge.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

O DOENTE

O Batalhão 1875 era composto pela companhia CCS, pela companhia de Caçadores 1493, no Inga - Toto 1494 e 1495 no Lucunga.
A 1495, foi um dia destacada durante um mês para outra zona numa grande operação, creio Nanbuangongo e, para o acampamento deles, foi o meu pelotão chefiado pelo Alferes Tomé, seguramente a uns 70 quilómetros do Toto. E num dia aparece-me um soldado queixando-se com dores de barriga, mediquei-o conforme o meu conhecimento, pensando tratar-se de uma simples dor de barriga, cólicas intestinais. Praticamente esgotei todos os medicamentos que tinha ao meu alcance, como não vi resultado nem melhoras pedi ao nosso Alferes Tomé afim de mandar um rádio para o Toto, pedindo Médico.
Deslocou-se até nós então o Alferes Médico DR Bento Soares, escoltado por um outro grupo de combate, já noite...
Analisada a situação do doente - uma apendicite aguda, este foi evacuado imediatamente por via aérea para o hospital de retaguarda Vila do Negage, onde foi operado com sucesso.

terça-feira, 9 de junho de 2009

A FÉ

Na retaguarda da guerra e com o coração em sobressalto, estava toda a família, Pais, irmãos e pessoas conhecidas nos meios pequenos, onde toda a gente se conhecia, desde o fundo da aldeia até ao cimo.
E acontece que todos os Domingos, uma irmã minha na cerimónia religiosa da missa (na igreja paroquial) acendia uma vela ao mártir São Sebastião, para que o azar não batesse à porta.
A verdade, é que no meio de muitos sacrifícios, lamentações e inconvenientes, regressámos para junto dos que nos eram queridos.
Infelizmente, o mesmo não sucedeu com outros jovens menos afortunados que regressaram encaixotados dentro de uma caixa de madeira.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

CONVÍVIO


Dentro da nossa guerra havia o grupo da rapaziada, das transmissões, telegrafista, telefonistas, incluindo o chifra, e nós serviço de saúde. Estávamos encostados porta com porta na mesma caserna, e reinava um ambiente saudável até para as comezainas das omeletes com ovos, e cerveja.
Numa bela noite o bom ambiente alargou-se a mais alguns participantes, incluindo o nosso Capitão e mais alguns oficiais e furriéis. Cheirou-lhes a petisco e o convívio prolongou-se noite fora.
O nosso Capitão a tocar acordeão e todos nós tínhamos que cantar uma cantiga, aquele que não cantava era penalizado com uma grade de cerveja, e esta penalização aconteceu ao nosso furriel Bicho.
Eu cantei naquela época na presença de todo o grupo...
"Já não tenho Pai nem mãe, já não tenho ninguém vivo,
sou como o perdigoto que ando no mato perdido."
E não é que fui aplaudido por todos com uma salva de palmas?...
Camaradagem, um por todos e todos por um.

domingo, 7 de junho de 2009

SATURAMENTO

Neste como noutros aquartelamentos, a mitologia era sempre a mesma rotina diária extremamente difícil.
Já cansados da situação, numa altura saí num patrulhamento de três dias percorrendo montes e vales. De regresso ao quartel recebo a notícia de mais outra saída similar à anterior. Tendo ficado pouco satisfeito com a informação, reclamei perante o Furriel Enfermeiro (que nunca tinha saído do quartel), desta vez lá cedeu e acabou por experimentar a sair no lugar dos dois cabos Enfermeiros.
Até a alimentação já nos causava fastio ao ponto de deitarmos vinagre no arroz afim de cortar o enjoo...

COLOCAÇÃO

Sempre que saíamos em viaturas para fora do aquartelamento, em coluna ou patrulhamentos, o oficial que comandava a operação colocava o Enfermeiro geralmente na segunda viatura, nunca na primeira, e nas caminhadas a pé sempre a seguir à primeira secção composta por oito a nove homens. Também dependia de oficial para oficial(Alferes).
Nunca na primeira viatura por causa da eventualidade das minas(armadilhas bomba, sempre junto ao comando assim como o telegrafista.
Caso saíssem dois grupos de combate em patrulhamento,normalmente saiam dois Enfermeiros, e o segundo mantinha-se na cauda do grupo depois da última secção,esta dirigida por um Sargento ou Furriel.

sábado, 6 de junho de 2009

O MONTE INGA

No cimo de um morro, algures no norte de Angola, permanecemos mais sete meses até terminarmos a comissão que nos era incumbida.
Foi neste monte com meia dúzia de barracas em madeira com telhados de zinco, numa rua ao meio, que foi albergada a companhia 1494 com cerca de 140 soldados transformado o local num quartel militar, onde todos os dias era hasteada a bandeira Portuguesa.
Foi neste aquartelamento que um soldado ficou todo queimado por descuido...
Foi o ferido mais grave que tivemos durante a nossa comissão.
Ao lançar gasolina para o lume com um bidão, deixou-o cair e de repente propagou-se-lhe o fogo ao corpo e queimou 60% a 70% por cento do mesmo, ficando com as orelhas e as mãos reduzidas.
Correu cerca de 100 metros pelo acampamento acima até alcançar o posto socorros, foram-lhe prestados os primeiros socorros e de seguida foi evacuado via aérea para o hospital do Negage, creio que mais tarde para a Metrópole,e nunca mais soube nada a seu respeito.