domingo, 30 de agosto de 2009

EMOÇÕES

Em alguns momentos, enquanto escrevia as lembranças desta História no Blog, muitas das vezes me emocionei, recordando tempos há muito longínquos. Justamente há quarenta e cinco anos que estes acontecimentos se passaram, há bastante tempo. Mas não deixei de uma vez por outra, tocado pela emoção, de deixar cair uma lágrima pela face abaixo, e houve dois "posts" que me tocaram bastante no fundo da minha memória e no meu ser interior, porque vivi de perto aquilo aquilo que se passou há muitos anos.
O tempo apesar de longo tudo tráz, mas também não deixa de trazer o esquecimento. Enquanto houver vida há recordações.
Por isso quero com isto dizer de uma forma simples, que não foi fácil relembrar todos este "posts"...

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

VAI À COZINHA

Estava de oficial dia, o Alferes dos Rangeres (TOMÉ MACEDO), Minhoto da Vila de AMARES, que já nos brindou com um convívio, e uma maravilhosa refeição na bonita vila de AMARES, e na altura presidente de Câmara. Brindou-nos, mas cada qual pagou o seu para tirar as dúvidas, mas o essencial é a camaradagem e amizade que nos liga todos os anos.
Pelo meu bom ser, um dia disse-me:"Angelo a partir de hoje passas a formar no meu Pelotão, segundo grupo de combate, e a partir daí assim foi. Em qualquer formatura formava neste mas nas saídas para o mato nem sempre era assim, saía com qualquer um.
Todos se davam bem.
Um dia no refeitório, cada mesa tinha 10 ou 12 militares, metade de cada lado da mesa. E nesse dia tocou-me a mim chefe de mesa, distribuir o comer por quantos estavam presentes: peixe com arroz, trazendo a travessa duas cabeças além das postas, e como não há carne sem osso, guardei uma cabeça para mim, a outra tinha que tocar a alguém. Ora dei-a ao parceiro que estava ao meu lado. Este não contente com o quinhão que lhe coube (CABEÇA) protestou. O Alferes apercebeu-se do reclamante perguntando "que se passa?" Contei-lhe a situação, e para apaziguar o faminto disse-lhe vai (à cozinha) buscar mais. E ele lá foi e trouxe mais. Por sinal, o Cabo cozinheiro da nossa companhia era do Orvalho, perto de São Vicente da B. Baixa, e o nome dele era ALEXANDRO.
Faziam um arroz que era uma maravilha.

OS GOVERNANTES

Os governantes deste País, façam aquilo que fizerem nunca pagarão o justo valor a todos os ex-militares e famílias, que duma maneira ou de outra deram o máximo em prol de Portugal nas guerras coloniais, assim como na primeira e segundas guerras mundiais.
Somos um País pequeno, mas com um povo cheio de bravura, somos um povo destemido, e como destemido que somos acabámos por perder a guerra: Guerra injusta, das colónias que não eram nossas. A África pertence aos negros, porque o próprio clima condiz com a côr e características fisiológicas daqueles que lá habitam.
Fomos um povo prejudicado e com o sacrifício de treze anos de conflitos armados, porque os nossos governantes Fascistas assim o quiseram. Pena foi eles não estarem metidos directamente no combate, porque teriam sido abatidos pelos próprios militares que eles comandavam.


Angola é rica, mas o povo vivia na miséria.
Acredito permanentemente que o povo de Angola tenha sido bastante explorado, assim como o povo Português, a questão da revolta....Nada é eterno, neste mundo. E os Angolanos viviam na extrema pobreza, porque era um país onde se vendia a linha de costura ao metro... Em Portugal também havia muita miséria e muita fome, e mães com onze filhos para lhes dar de comer...Ninguém as ajudava, mas tiveram que dar os filhos para sustentar a guerra dos cromos deste Portugal. Será que ainda abundam alguns por aí?...É possível...

A CONSULTA

Ainda no Tôto, os nossos oficiais incluindo o Capitão eram frequentemente visitados por um indivíduo de côr negra que habitava na sanzala, e isto sempre me surpreendeu.
A amizade criada entre os nossos oficiais e este dito Senhor, porque já dantes seria assim e continuou depois de nós, segundo o que já li noutro Blog de um militar que por lá passou depois de mim. Será que este dito negro trazia informações ao nosso comandante de companhia?
Só podia ser porque estas coisas deixam-nos sempre com o bichinho atrás da orelha.
Todos os dias de manhã as populações da sanzala, adultos e crianças, assim que se sentiam doentes recorriam aos nossos serviços de saúde. Era só chegar à porta de armas e diziam ao sentinela "vai na Enfarmaria à procura de quinino" (medicamento para as febres de Paludismo). "Vai na Enfarmaria" era a liguagem típica de negro.