quarta-feira, 27 de maio de 2009

SOLIDARIEDADE

Em todas as saídas para os patrulhamentos, o oficial responsável tinha sempre a preocupação de qual o Enfermeiro que os acompanhava, e tinham o cuidado de ir ao posto de socorros perguntar.
Havia um relacionamento forte de camaradagem entre oficiais, sargentos, e soldados que ainda hoje se mantém. Podiam sair sem transmissões por falta de rádio, mas era indispensável numa saída haver ausência das transmissões e prestador de Primeiros socorros.
Devido ao bom ambiente gerou-se sempre um ambiente de paz para com a nossa companhia, e porquê...?
Em parte porque as populações eram acarinhadas com assistência médica e os restos das sobras do refeitório eram distribuídos pelas crianças que nos visitavam todos os dias à procura de sobrevivência. Creio ser o motivo principal de termos passado uma comissão relativamente tranquila.
Entre nós soldados, já existia diálogo à nossa maneira.

A VISITA

Apesar de toda a zona ser de guerra, num belo dia as meninas do movimento nacional Feminino fizeram-nos uma visita ao nosso aquartelamento TOTO.E para dar ânimo às tropas, as suas visitas tinham tanto impacto na moral das mesmas, como receber um bilhete postal.

Naturalmente, para qualquer soldado na guerra as visitas eram sempre de um certo agrado, devido ao isolamento e saturação a que eram sujeitos.
Dias depois, três ou quatro dias na vila do BEMBE, estava um destacamento de tropa colonos negros de Angola. Num belo dia que não teve beleza nenhuma, foram à lenha para a cozinha, e já no regresso caíram numa emboscada, atacados de tal maneira que lhes queimaram três viaturas Uni-mogues.
Era uma guerra de sorte, porque sempre que saíamos do aquartelamento pensávamos para nos próprios ..."que destino mes estará reservado para hoje...?????? Será que volto tal e qual como sai????..."
Felizmente fui sempre dos que voltei . Perguntarão, houve mortos ????... Claro que sim, e de horror...

O GUIA

Desta vez a ordem do Capitão Almeida disse:"Quero toda a gente bem prevenida."
Tinhamos informação segura de que existia um acampamento nas margens do rio Loge. Eu sempre me fiz acompanhar da pistola Valter de 9 mm, arma de guerra. E felizmente, conforme a recebi assim a entreguei, sem nunca ter feito um disparo com ela.
Mas enfim ordens são ordens, e desta vez saí com a fabulosa costureirinha G 3, com seis carregadores, mais seis granadas defensivas, incluindo bolsa de primeiros socorros bem recheada com material, que pensei poder vir a ser útil, incluindo até soro, caso houvesse necessidade de transfusão. Em suma, preparado para qualquer eventualidade.

Na nossa companhia ía um indivíduo de côr como guia, caminhámos algumas horas debaixo de um sol abrasador, com dois grupos de combate cujo nº de homens não me recordo, embora creia terem sido perto de cinquenta.
Depois de algum tempo houve uma pausa, com descanso junto à margem esquerda do rio. Nisto alguém notou um cheiro a fumo e ficámos alerta.

O Oficial responsável pela operação, pede informação ao guia que nos acompanhava, simplesmente dizendo que não era possível estarem ali, mas sim mais à frente do nosso itinerário.
Já quase pôr do sol, o Alferes bastante carregado, pediu-me para permanecer ali com meia dúzia de soldados, enquanto eles fizeram mais alguns km. Regressaram já era noite e pernoitamos precisamente naquele lugar.

Mata serrada até de manhã,dias depois recebemos ordens para permanecer naquela zona durante alguns meses seguidos. Sucede que mais tarde viemos descobrir um acampamento
abandonado, mas numa bela saída ainda fomos premiados com uma mina de fraca potência que não nos causou felizmente qualquer ferido.